Em 09 de dezembro de 1911, nascia na capital paulista uma mulher que viria a confrontar os limites de gênero impostos à sua época. Dinah Silveira de Queiroz veio de uma família tradicional e repleta de escritores e intelectuais renomados. Filha do jornalista e advogado Alarico Silveira e sobrinha do escritor Valdomiro Silveira, não demorou muito para mostrar seus talentos literários.
Dinah Silveira de Queiroz começou a escrever por volta da década de 1930, incentivada por seu marido, o desembargador Narcélio de Queiroz. À época, quando os autores do Modernismo brasileiro começaram a experimentar o romance regionalista, que buscava enaltecer a cultura regional e apontar os problemas sociais existentes em algumas regiões do Brasil, Dinah se debruçou sobre temas mais introspectivos e de análises psicológicas. Muitos dos seus contos contam com a presença do maravilhoso e da ficção científica, gênero que executa com maestria.
Em 1937, Dinah escreveu e publicou seu primeiro trabalho literário, um conto intitulado “Pecado”, publicado no Correio Paulistano. A recepção positiva da obra pelo público paulistano foi o estímulo que a escritora precisava para seguir com a sua escrita. Em 1939, deu à luz o seu primeiro romance. “Floradas na Serra”, obra vencedora do Prêmio da Academia Paulista de Letras, explora o cotidiano dos tuberculosos em tratamento na Serra da Mantiqueira. Nesse livro, Dinah resgata a história de uma mulher que, doente e ciente da própria morte iminente, se despede da filha à distância para não correr o risco de contaminá-la, ela então pede que retirem uma fita do cabelo da menina e deixa nela o beijo de despedida. Essa história aconteceu com Dinah, que perdeu a própria mãe, Dinorah Ribeiro Silveira, aos três anos de idade vítima da tuberculose. Acontecimento que marcou profundamente a escrita de Dinah.
Dinah Silveira de Queiroz poderia ter sido a primeira mulher a se tornar imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL). A primeira escritora feminina a ser agraciada com o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, confrontou, em 1970, o regimento que impossibilitava a entrada de mulheres na ABL e enviou ao então Presidente da instituição, Austregésilo de Athayde, uma proposta de candidatura para concorrer à Cadeira 17, na vaga deixada pelo acadêmico Álvaro Lins. Ainda assim, diante de tamanha contribuição à literatura brasileira, sua candidatura não foi aceita e sua entrada na Academia Brasileira de Letras foi adiada até 1980, três anos depois da estreia cearense Rachel de Queiroz, prima de seu primeiro marido na casa de Machado de Assis.
A autora de “As Aventuras do Homem Vegetal” (1951) e “A Muralha” (1954) é um importante nome para a literatura brasileira, sua obra que percorre vários gêneros: romances, crônicas, contos, artigos e dramaturgia e deve ser lida pela posteridade.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.