O sangue veio

Ainda sangro todos os meses. Está escrito que foi castigo. Não me contento com isso. Não me contento com muita coisa e nem com pouca. Todo mundo tem um pouco de contestação. Sangrar é desconfortável, todo mês, escorre entre minhas pernas e molha minha mente de insatisfação. Esse sangue demonstra que estou viva. E a vida é isso: uma espécie de Yin Yang social. Não é linha reta, simetria, harmonia, paz, talvez seja uma busca constante e interminável disso. A vida é furação, talvez sangre por isso. 

Sou furacão. Mentira que digo todos os dias, tem gente que acredita, eu mesma tento crê. Eu sangro. Choro dentro do banheiro, quando consigo engulo o choro, como escondo o sangue, mas eu vejo e não me acostumo com isso. Acho que sou uma mentirosa convicta dos meus sentimentos e já me adaptei a isso.

Hoje é dia de festa. Vestido longo, cara tapada de pó, batom para dizer que tenho lábios, brincos discretos e predominantemente brilhantes, olhos realçados de delicadeza e sorrisos improvisados de felicidade. Mais uma festa a ser encarada, uma aposta de que o amor vencerá a dúvida. Saio correndo, o sangue estava maior que o tempo de espera.  

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *