Xela

Era mesmo pichadora. Uma subversiva. Uma clandestina sempre querendo ser vista. Se a expressão carne e osso vale para alguma coisa, isso faz parte do seu retrato-falado. Cabelos embolados, que por muito tempo não soube lidar.


Da castanhola ao spray, tudo virava gritos nas paredes. Queria mesmo aparecer. Ser percebida, mesmo sem ser identificada. A magrela pichava tudo. Carimbava a cidade com se quisesse dizer que também existia.


Inquieta, inventora, riscadora. Fazia dos muros um atestado de rebeldia e um pedido de socorro. Criminosa de um crime que era vítima.


Andava pelas ruas sacolejando a bila do spray. Fazendo poesia sem verso e perdida de ritmo. Um dia subiu na torre da igreja, lugar estreito, alto, tinha medo de altura, mesmo assim o atrevimento sempre foi seu aliado. Escreveu: Entre o céu e a terra muitas verdades são escondidas!


Os muros amanheceram cinza, negando as pichações, mas a cada instante surgem novas pichadoras incompreendidas, assim como Xela que não se contém em silenciar os seus muros.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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