O fruto continua proibido

Está proibido manifestar o desejo. Se tranque em infinitos segredos. Se tranque. Murcha me recolhi, na sala do desespero, sem nenhum gole de água. Tenho que negar tudo, ser aprendiz de mentirosa, já que não quero ser aprendiz de feiticeira.  Sou bicha, animalesca por natureza, humana pelas circunstâncias. Posta no mundo, cheia de gente e coisas, em movimento e, eu rodando, mesmo sentadinha na cadeira só observando.

Tirar-me o desejo é negar minha existência. É assaltar sonhos, bombardear a verdade, é louvar a hipocrisia. Calamos e matamos todos os dias os nossos suspiros. Enterramos sem cerimônias os nossos tumultos.

Amo, mesmo desconhecendo essa engenharia sempre inacabada e sem manual, faltosa de parafusos e comandadas por deuses e demônios. Ensinaram-me desde de cedo a ser embrulhadora de sentimentos. Sou curiosa, gosto de desembrulhar, sentir a descoberta. 

Já acreditei ser possível amar uma única pessoa por vez. Tola. Amei mais de um, desejei vários. Aprendi certo porque me ensinaram errado. Sentir-me culpada.

A verdade ainda é um fruto proibido.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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