A humanidade é limitada e individualista. Para sair desse ciclo de “pequenês”, precisamos ver, sentir, escutar, apreciar, vivenciar múltiplas experiências, mas, sobretudo, precisamos da(s) arte(s).
Isso me fez lembrar de um desabafo da cantora e compositora Zélia Duncan, no ano de 2018, período conturbado da política brasileira, em virtude da polarização entre os candidatos do partido de esquerda e do partido de extrema direita para o cargo de Presidente da República.
Ano atípico para os artistas brasileiros, que da água para o vinho, começaram a ser atacados por zumbis, ora robôs, ora gente. Em defesa da classe artística, Zélia Duncan foi em suas redes sociais e questionou os reacionários que não suportam a liberdade de expressão: “Você não precisa da arte?”.
Nesse texto-manifesto, Zélia pede, deveria ter exigido, os momentos bons outrora proporcionados pelas artes. “Os versos roubados de nós” [artistas]. Pede também que seja arrancado os rádios dos carros e destruídas as caixas de sons. Como se não bastasse, pede que seja jogado fora os quadros das paredes para que elas fiquem em branco, tal qual a cabeça de todos aqueles contrários à arte.
A esse tipo de gente, o breu, seguido (aos meus olhos) de uma maldição: “você vai rimar com números / vai dormir com raiva, e acordar sem sonhos, / sem nada”. Sem arte a vida é o mais puro niilismo.
Parafraseando Descartes quando afirma “Penso, logo existo”, eu diria: “Penso, logo crio”. O homem é, por excelência, um ser criador. Por meio da Literatura, da Música, do Teatro, da Pintura, do Cinema, da Dança, ele recria uma sociedade alicerçada por tabus e preconceitos.
A arte é uma forma que o homem concebeu para dizer-lhe o que lhe vai n’alma. É um modo de libertação, de conexão com o divino, de elevação, um perder-se para encontrar-se.
Por isso é tão importante que seja instigada desde a infância pelos pais, tios, avós, professores. Consumir e produzir arte é um dos meios mais eficazes para conceber sujeitos críticos, éticos e empáticos.
Não podemos falar da arte sem falar dos artistas – trabalhadores que a todo instante precisam lidar com suas inquietações, suas angústias, seus medos. Aliado à técnica e aos apetrechos de trabalho, cria uma obra de arte que carrega uma mensagem.
Houve um tempo em que a função do artista era simplesmente distrair o público. Arte era apenas sinônimo de diversão e de entretenimento. Na era das desigualdades sociais, apogeu das novas tecnologias, crises climáticas, da “barbárie civilizada”, nas palavras do crítico Antonio Cândido, queremos mais para chamar o artista de artista. Não basta subir ao palco para dançar, ou cantar, ou performar, receber seu cachê e se dirigir para o conforto do seu lar.
Em troca da fama, queremos que o artista se comprometa com a sociedade da qual ele faz parte. Assim, como cada um de nós, dificilmente ele/ela não se deixa afetar com a notícia de que existem 33 milhões de brasileiros passando fome, que um terço das mulheres brasileiras já sofreu algum episódio de violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida, que a cada três dias uma livraria fecha no Brasil etc.
Não estamos dizendo que o artista para ser artista precise ser um militante. Desejamos tão somente que sua arte para além do deleite, não nos faça esquecer das atrocidades que estão ao nosso redor. Ou que não permita que possamos nos perder dentro de uma rotina exaustiva e asfixiante do cotidiano.
Tudo isso para dizer que 12 de agosto é o Dia Nacional das Artes nascida do Decreto de Lei nº 82.385, de 5 de outubro de 1978, e a partir da Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978. Eu não sabia disso. E você?
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler