O antropofagismo poético de Oswald de Andrade

Bacharel em Direito e em Humanidades, Oswald de Andrade (1890-1954) enveredou pelos caminhos da literatura, área em que se tornou destaque e um dos principais nomes do Movimento Modernista no Brasil. Nascido em 11 de janeiro de 1890, foi poeta, escritor, dramaturgo e ensaísta, dono de uma poesia radical, com linguagem simples e complexidade reflexiva, geralmente em textos de poucos versos.

Um grande pensador da poética brasileira, Oswald de Andrade, em 1924, publicou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, um trabalho que reunia novas propostas – estéticas e ideológicas – de fazer uma poesia genuinamente brasileira – “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos”; e críticas ao Parnasianismo – “Só não se inventou uma máquina de fazer versos – a havia o poeta parnasiano” – como uma arte elitista, de difícil compreensão, uma vez que a finalidade poética dessa escola literária era construir uma beleza visual, sem preocupação com ideais nem problematizações sociais, e sim com a técnica, resgatando estruturas clássicas.

No Brasil, o Movimento Modernista, no âmbito literário, surgiu com o objetivo de repensar os gêneros literários, se desprendendo principalmente dos modelos parnasianos e simbolistas de fazer poesia. A ruptura se deu em 1922, em São Paulo, durante a Semana de Arte Moderna, um evento planejado por duas décadas, que juntou artes plásticas, literatura, dança, pintura e poesia. Idealizada por grupos intelectuais – dos quais se destaca Oswald de Andrade, ao lado de Mário de Andrade (1893-1945) e Di Cavalcanti (1897-1976) –  dispostos a romper com as formas de pensar a arte, longe das influências europeias, foi um evento marcado por manifestações que questionavam o papel da arte e com um público hostil, dividido entre inovadores e conservadores, que terminou com vaias, gritos e agressões, mas que não impediram a mudança.

Com todas as suas contribuições ao Modernismo, Oswald de Andrade tornou-se um dos poetas mais representativos da época. O autor da trilogia do exílio: Os condenados (1922), Estrela de absinto (1927) e A escada vermelha (1934), casou-se, em 1926, com a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973), com quem fundou o Movimento Antropófago, que sugeria a deglutição da cultura estrangeira transformando-a em uma coisa realmente brasileira, deixando de lado a dicotomia nacional x estrangeiro. A título de exemplo, em Manifesto Antropófago (1928), Oswald de Andrade se apropria da conhecida frase do escritor britânico William Shakespeare (1654-1616), “To be, or not to be, that is the question”, e a transforma em “Tupi, or not tupi, that is the question”, misturando elementos da cultura nacional e estrangeira, uma ilustração do seu antropofagismo artístico. Proposta que, anos mais tarde, foi aderida pelo Movimento Tropicalista, idealizado pelos artistas Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, etc.
Em seu segundo casamento, com a escritora Patrícia Galvão – Pagu (1910-1962), se filiou ao Partido Comunista, o que contribuiu na sua obra, que passou a tratar, também, de temáticas relacionadas à consciência de classe. Oswald de Andrade foi presença marcante no cenário cultural da primeira metade do século XX, um dos responsáveis pela criação de uma nova roupagem para a poesia brasileira. Um poeta inquieto, provocante e irreverente.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro
Shirley Pinheiro

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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